Anderson, 27 anos, tem a agricultura no sangue

Se por um lado a sobrevivência da agricultura deve muito àqueles que, desde muitos anos, vêm lutando para manter férteis as terras jundiaienses, na outra ponta estão jovens determinados a dar sequência à tradição de suas famílias, pioneiras na produção das frutas que dão fama a Jundiaí como terra da uva e do morango. No Traviú, quem prova que é possível contar com a sucessão para manter o homem no campo é Anderson Alex Tomasetto que, aos 27 anos, não pensa em outra forma de negócio que não a agricultura.

Vocação herdada dos tios, Anderson cuida de uma plantação que ocupa boa parte dos 3,5 hectares de uva e ameixa na propriedade da família. Segundo ele, não foi por acaso ou imposição. “Acho que está no sangue, porque não chega a ser um negócio estável e tranqüilo”, diz, ele, demonstrando ser muito experiente e conhecedor das culturas que produz. O preço, como diz Anderson, não é a melhor explicação para sua opção por trabalhar dia após dia sob sol, acordando muito cedo e quase não podendo parar nem para uma refeição mais tranqüila. “A política de preços para nossas culturas não é uma coisa justa, mas a paixão fala mais alto”, garante.

Nesta semana, inclusive, Anderson estava envolvido com a montagem de uma nova estrutura para a sua uva. É a técnica do cultivo protegido da uva em “Y”, processo que vem sendo difundido entre os agricultores, com resultados satisfatórios na questão da irrigação e melhor aproveitamento dos fertilizantes. E foi por meio de uma palestra promovida pela Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento, da qual participou, que ele teve conhecimento da novidade e resolveu experimentar. Mas não foi somente a essa iniciativa da SMAA que ele aderiu, pois Anderson também participou dos programas Saúde no Campo, Campo Limpo e Análise de Solo.

Como todo pequeno empreendedor rural, Anderson também enfrenta problemas com o escoamento da produção. É onde entra a importância da união dentro do setor, o que foi resolvido com a Cooperativa Nossa Senhora da Vitória, da qual ele faz parte. “Pela cooperativa conseguimos baratear a produção, com a aquisição de insumos com melhor preço e também fazer nossas frutas chegarem ao consumidor final de forma mais rápida e menos onerosa”, comenta.

Anderson também gosta de acompanhar as novidades do setor e, sempre que pode, pesquisa na internet o que há de novo no mercado para poder se atualizar e aplicar na sua plantação. Uma nova técnica de plantio de ameixa ele já está testando e espera para ver os resultados. “Para nós, agricultores, tudo é sempre no ano que vem. Então, vamos esperar o ano que vem para ver no que vai dar”, brincou.

Fotos: José Aparecido dos Santos

 

Caqui é apontada fruta da vez para agricultores

Fruta já é a terceira cultura mais produzida na cidade, com um safra de 6.030 toneladas no ano passado

Mauro Utida mauro.utida@bomdiajundiai.com.br

Os agricultores de Jundiaí estão investindo em uma nova cultura de fruta que tem se adaptado bem na região. Trata-se do caqui, que já é a terceira fruta mais produzida no município e fica atrás apenas da uva (carro-chefe da zona rural jundiaiense)e da mexerica poncã.

Um dos motivos desse crescimento do cultivo  do caqui em Jundiaí e região é a valorização da fruta no mercado (R$ 1,50 o quilo) e também a facilidade e baixo custo na produção.

A previsão para o caqui chegar ao mercado é para o final deste mês.
O produtor Roberto Losqui, 58 anos, explica que diferente de outras culturas, como a uva, a produção de caqui necessita de um número reduzido de mão de obra e o custo é menor.

“As vantagens para quem produz o caqui é que ele não tem muito custo, a primeira safra ocorre em cinco anos, o pomar é abundante,  a mão de obra é menor e a fruta está no gosto popular”, explica Losqui, que produz o caqui e mais cinco frutas no sítio localizado no bairro Corrupira, há 45 anos.

No caso da Cooperativa Nossa Senhora das Vitórias, formada por 36 agricultores de região do  Traviú, o caqui é o principal produto comercializado pelo grupo, que ainda inclui a uva niágara rosada, a ameixa, o pêssego, a nectarina e a nespera.

Na safra do ano passado o grupo comercializou 3,6 mil toneladas do caqui, com um rendimento bruto de R$ 5,4 milhões.

O presidente da cooperativa Orlando Steck, 51, explica que a valorização da terra em Jundiaí tem causado a migração de agricultores de Jundiaí para outras cidades do Estado.

Por isso, segundo ele, todos os cooperados contam com produção extra em outros municípios e concentram em Jundiaí a embalagem e a comercialização. “Isso faz a produção da cooperativa aumentar  e com um custo menor”, explica.

Instalabilidade / Mas não há apenas motivos para comemorar. O clima nos últimos anos tem sido um forte adversário para os produtores na região, tanto que o presidente da Associação Agrícola de Jundiaí, Flávio Ceolin, acredita que a safra do caqui neste ano pode ter uma quebra de 30 a 40% em relação ao ano passado.

O pesquisador do Centro de Ecofisiologia do IAC (Instituto Agronômico de Campinas), Mario Pedroso Júnior, explica que 2011 foi um ano atípico para a agricultor com um inverno mais seco do que o normal, o que provocou perda da qualidade da uva, por exemplo.

Já o  produtor Steck diz que o clima do ano passado prejudicou a floração do caqui e por causa disso está previsto uma redução de 20% na produção da fruta na cooperativa.
“Quando inicia a floração do caqui, em outubro, é preciso ter um clima quente e úmido, mas tivemos frio e estiagem”, alega.

Apesar do clima atípico registrado no ano passado, Steck ainda avalia que Jundiaí possui uma clima privilegiado para a fruticultura.

Segundo as previsões do CPTEC/INPE (Centro de Previsão de Tempos e Estudos Climáticos/Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o primeiro trimestre de 2012 será normal.

 

Programa Campo Limpo tem boa adesão no Traviú

Assim que os portões da Associação dos Moradores do Traviú foram abertos, na manhã desta quinta-feira (27), um expressivo número de agricultores já estava a postos com um grande volume de embalagens de agrotóxicos para serem entregues ao programa Campo Limpo que, em sua terceira edição, montou sua base de coleta naquele bairro. O objetivo do programa, desenvolvido pela Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento (SMAA), com apoio do Cerest (Centro de Referência em Saúde do Trabalhador), é facilitar ao produtor o descarte das embalagens de agrotóxicos, para eliminar os riscos que elas oferecem nas propriedades rurais.

De acordo com a diretora de Agronegócio da SMAA, Isabel Harder, da primeira edição até a desta quinta-feira, o cenário que se observa já é outro, pois a maior parte do material já foi entregue. “Quando fizemos o primeiro Campo Limpo, as pessoas ainda tinham muita coisa armazenada nas suas propriedades. Do segundo para cá, o volume já é bem menor, pois há uma conscientização maior também e o tempo que eles seguram as embalagens com eles tem diminuído”, disse. Quando o produtor adquire um produto agrotóxico, ele sabe que precisa devolver a embalagem, o que pode ser feito no próprio estabel ecimento onde adquiriu, levar até Valinhos, na central de coleta, ou esperar pelo Campo Limpo, que acontece diversas vezes ao ano em regiões diferentes da cidade.

34 mil toneladas

Esse é o número de embalagens de agrotóxicos que deve ser recolhido neste ano em todo o País. A informação é do coordenador da Associação dos Distribuidores de Insumos Agrícolas do Estado de São Paulo (Adriesp), Eduardo Prada Neto. Segundo ele, que responde pela unidade de Valinhos, para onde vai o material coletado em Jundiaí e cidades da região, somente no Estado, devem entrar até o final do ano três mil toneladas. No ano passado, Valinhos recebeu 10 toneladas.

Material é reciclado

O primeiro destino das embalagens de agrotóxicos é a central da Adriesp, em Valinhos. Lá todo o material é selecionado, para separar o que é reciclável e o que deve ser incinerado.

Nem tudo serve para reciclagem. Alguns recipientes acabam inço para a incineração, pois não possibilitam a lavagem. Mas a maior parte é transformada, em outro local, em matéria prima para confecção de conduítes, caixas de bateria, drenos de áagua, entre outros equipamentos. “Nunca uma embalagem para alimentos”, lembra Rogério.

Para o secretário de Agricultura, Jorge Yatim, é importante que o produtor aproveite oportunidades como essas, pois a facilidade de descartar as embalagens antecipa a limpeza da sua área de produção.

Mulheres ajudam os agricultores na mão de obra

Devido a escassez de trabalhadores, elas 'arregaçam as mangas' para colocar a safra de uva no mercado Mauro Utida mauro.utida@bomdiajundiai.com.br

Além de cuidar dos filhos e dos trabalhos domésticos, muitas mulheres que vivem na zona rural de Jundiaí também “arregaçam as mangas” para ajudar na produção da uva, que neste mês atinge 90% da safra anual. Elas realizam um importante trabalho para manter viva a tradição da fruta em Jundiaí, pois atualmente a maior dificuldade dos agricultores é encontrar mão de obra qualificada para a atividade no campo.

A chácara Nossa Senhora das Vitórias, localizada no Traviú, é uma das propriedades que depende da força de trabalho feminino. Para produzir uma média de 20 mil caixas por ano, o agricultor Odair Lourençon, 52 anos, conta com a ajuda das mulheres, filhas e netas dos meeiros, além da própria cunhada, para conseguir embalar tanta fruta. “Elas ajudam apenas na embalagem. Nesta época do ano elas são fundamentais, pois estamos perdendo bons empregados para as indústrias e só está ficando quem tem raízes na agricultura”.

A aposentada Ataíde da Silva Santos, 58 anos, trabalha na roça desde criança, mas há 11 anos não pode mais ajudar por causa da doença de Parkinson, que deixa suas mãos trêmulas. “Para trabalhar na embalagem da uva precisa ter as mãos boas para não machucar a fruta”, explica a mulher que migrou da Bahia para Jundiaí há 20 anos com a família.

Apesar das dificuldades, dona Ataíde está na roça diariamente, mas apenas para orientar as filhas e as netas. A filha Vanessa da Silva Santos, 30, seguiu os passos da mãe e pretende continuar trabalhando na fruticultura. “Não penso em abandonar o campo para trabalhar numa fábrica”, diz.

Agricultura familiar /Em Jundiaí a produção de uva ocorre predominantemente em pequenas porções de terra, com menos de 50 mil m². Mais da metade das propriedades – 53% – têm essa característica. Exemplos não faltam no Caxambu. É o caso de Antonio Galvão, 67, e Neusa Manzatto Galvão, 64, que vivem da agricultura familiar.

O casal é responsável pela safra de 15 mil pés de uva. Quase toda a produção é vendida na porta da casa, localizada na avenida Humberto Cereser. “Dá para vender uma média de 30 caixas por dia”, diz dona Neusa.

Enquanto o marido trabalha na roça, no Roseiral, dona Neusa vende as frutas, mas diz que também ajuda o marido em tudo. Ela conta que tem uma filha já casada, que preferiu não seguir a  tradição familiar na produção de  uva.  “A roça é muito sofrida, principalmente para a mulher, pois estraga a pele”, afirma dona Neusa.